Frase da Semana

"A MINHA FELICIDADE DEPENDE DA QUALIDADE DOS MEUS PENSAMENTOS"





quinta-feira, 16 de outubro de 2008

AO MESTRE COM CARINHO


Atire a primeira pedra, aquele que, sendo da minha geração não assistiu ao filme em que Sidney Poitier, ao som de To Sir With Love, cantado por Lulu, transformava alunos rebeldes, de algum subúrbio londrino, em pacatos futuros cidadãos.

Sou professor, não porque fiquei com inveja do Sidney, mas porque assim foi que meu caminho seguiu. E, como Sidney, dou aula, não para alunos rebeldes de um subúrbio londrino, mas simplesmente rebeldes de comunidades cariocas, cujo comportamento anda me deixando maluco.

Quando você estuda Matemática ou Física, como eu estudei, mesmo escolhendo licenciatura, não é preparado para a realidade de salas de aula problemáticas e abarrotadas como tenho.

Estou no magistério há 13 anos, número cabalístico dizem, dá sorte para alguns e azar para outros. Para mim não significa nada, a não ser um número primo maior que 11 e menor que 17. Mas tratando-se de tempo de profissão, há o que se levar muito em conta, principalmente porque, se eu pensar bem, um aluno do ensino fundamental que tinha 15 anos e estava na 8ª série na minha primeira turma, hoje está com 28 anos. Pode ser um homem casado, pai. Engenheiro, administrador, professor, médico recém-formado ou não ser nada disso e sequer ter terminado o ensino médio. A única certeza que tenho é que ele está com 28 anos.

Outra certeza que posso garantir é que esse aluno, há treze anos, com a mesma origem que vários dos meus alunos de hoje, não tinha o mesmo comportamento. Era definitivamente, mais educado, respeitoso, tinha uma noção de limites e principalmente ainda sabia o valor da escola. Com esse aluno devo ter sido capaz de conversar e dar algumas dicas, talvez até alguns conselhos, porque esse aluno me ouvia, ainda acreditava na minha imagem e considerava minhas palavras.

Em um mundo tão antenado, globalizado, informatizado e podemos dizer até mais democratizado, estou estarrecido ao ver a falta de entusiasmo e excesso de agressividade dos meus alunos. Não são mais aqueles meninos e meninas, cheios de curiosidade pelas descobertas a cada virada de página do livro. São adolescentes, para quem o sexo não é assunto velado e sim corriqueiro, quando não muito bem praticado. Vestem-se com tênis de marca, calça jeans da moda, têm o mais caro dos celulares, porém não sabem o que é pedir licença, fazer um agrado, ouvir, interessar-se realmente uns pelos outros. São companheiros para a farra, bagunça. Ouvem e dançam o último funk. Mas será que ouvem um ao outro?

Nunca ouvi tanto palavrão em sala, se antes eu tinha uma sala com 35 alunos onde 5 eram os bagunceiros e 30 paravam para me ouvir, hoje estou em salas com 50 alunos, onde 5 se interessam por alguma coisa e 45 não param de falar. Lembro-me das cenas de sala de aula do professor Takery, não eram calmas, mas não era um elenco tão grande.

Sidney, ou professor Takery, teve a oportunidade de mudar, e resolveu, na cena final, ao abrir um presente, que era uma caneca, manter-se lá, na esperança de mudar uma nova turma de rebeldes.

Claro que nem tudo são ossos, há momentos de muita beleza, mas mesmo assim, mesmo tendo recebido essa caneca que ilustra a postagem estou pensando seriamente se continuo.

Ah! Ia me esquecendo: feliz dia dos professores!

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